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Durante muito tempo briguei com São Paulo. A cidade, que parecia a solução de todos os meus problemas, acabou se transformando em mais um item da lista – e dos grandes. A poluição se tornou parte do meu cenário. Um dia azul passou a ser cinza. Os barulhos interferem na voz da própria consciência. Não existe a luz no fim do túnel, porque ele esta congestionado.
Foi assim que vivi durante um tempo. Dormindo de dia, quase-chorando de noite. Não me deixava ser tocada por esse ar, que achava eu, ser feito apenas de substâncias tóxicas. A decepção de descobrir que a cidade grande é apenas mais uma cidade, foi maior que os prédios da Paulista. Foram tempos dificeis, eu confesso, mas a falta de preocupação da capital com os milhares de habitante que ela (não) acolhe, me obrigou a crescer.
Chove mais uma vez lá fora e da jus ao nome ‘terra da garoa’. Esse tempo poderia servir como desculpa (igual sempre acontece) para me enrolar entre os cobertores, travesseiros e pelúcias – minha única companhia. Só que hoje me deu vontade de viver e dessa vez nem o trânsito da Vinte e Três de Maio será capaz de me parar.